segunda-feira, 23 de março de 2009

MATEMÁTICA

Às folhas tantas do livro matemático
um quociente apaixonou-se um dia doidamente por uma incógnita.
Olhou-a com seu olhar enumerável
e viu-a do ápice à base, uma figura ímpar;
olhos rombóides, boca trapezóide, corpo octogonal, seios esferóides.
Fez da sua vida uma vida paralela à dela,
até que se encontraram no infinito.
"Quem és tú?" Indagou ele com ânsia radical.
"Sou a soma dos quadrados dos catetos, mas pode me chamar de hipotenusa".
E de falarem descobriram que eram
- o que, em matemática, corresponde a almas irmãs - primos entre si.
E assim se amaram ao quadrado da velocidade da luz
numa sexta potenciação, traçando ao sabor do momento e da paixão
retas, curvas, círculos e linhas senoidais.
Escandalizaram os ortodoxos das fórmulas euclidianas
e os exegetas do universo finito.
Romperam convenções newtonianas e pitagóricas.
E, enfim, resolveram se casar, construir um lar.
Mais que um lar, uma perpendicular.
Convidaram para padrinhos o poliedro e a bissetriz.
E fizeram planos, equações e diagramas para o futuro
sonhando com uma felicidade integral e diferencial.
E se casaram e tiveram uma secante e três cones muito engraçadinhos.
E foram felizes até aquele dia em que tudo, afinal vira monotonia.
Foi então que surgiu o máximo divisor comum
frequentador de círculos concêntricos viciosos.
Ofereceu a ela uma grandeza absoluta e reduziu-a a um denominador comum.
Ele, quociente, percebeu que com ela não formava mais um todo, uma unidade.
Era o triângulo, tanto chamado amoroso.
Desse problema, ela era a fração mais ordinária.
Mas foi então que Einstein descobriu a relatividade
e tudo que era espúrio passaou a ser moralidade
como, aliás, em qualquer sociedade.

Millor Fernandes

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